terça-feira, 15 de abril de 2008

Companhia de Inventos Musicais-CIM: Projeto CIM - Construção de Instrumentos Musicais

Companhia de Inventos Musicais-CIM: Projeto CIM - Construção de Instrumentos Musicais
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quinta-feira, 20 de março de 2008

Projeto CIM - Construção de Instrumentos Musicais


CONSTRUÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS
OUTRA VISÃO DO REFUGO







Herman Hudson de Oliveira







INTRODUÇÃO
A forma como lidamos com o lixo que produzimos, - seja a lata de cerveja, o pedaço de cano de PVC não aproveitado, balões de festa de aniversário enfim, tudo o que aqui será considerado como refugo - ainda padece do tratamento inadequado seja na origem, seja no destino final.
Esta atitude contrasta fortemente com a nova visão que tem se instalado nos mais diversos setores, ou seja, as suposições acerca da disponibilidade de nossos recursos - minerais, hidráulicos, energéticos, entre outros -, estão equivocadas, portanto é necessário e urgente readequar nossos usos, usufrutos e, obviamente, o destino que daremos aquilo que não usamos e/ou de que usufruímos.
Em outras palavras, a mudança de nossos hábitos subjaz a um novo pensamento, ou redirecionamento de nosso olhar sobre aquilo que cremos ser desprezível.
Nesse sentido os trabalhos que visam à redução, reutilização e reciclagem têm enorme importância não somente de forma direta[1], na medida em que ajudam, ainda que de forma incipiente, na minimização dos problemas em relação à quantidade e destino do “lixo” produzido em nossa sociedade, mas também contribuem com a reeducação do cidadão.

JUSTIFICATIVA
Atualmente em Cuiabá/Várzea Grande não há oferta de cursos ou mesmo de oficinas na área de construção de instrumentos musicais de nenhuma ordem (cordofones, membranofones, aerofones entre outros) e que contemplem aspectos ligados às questões ambientais.
No entanto, a ausência de tais cursos é estranha se tomarmos em conta que é da competência do fazer artístico (ou artesanal) da construção de instrumentos musicais o surgimento de um dos símbolos da cultura mato-grossense: a viola-de-cocho. Aliás, a não preservação de rios e matas tem comprometido o trabalho dos luthiers, requerendo que busquem alternativas na substituição de algumas madeiras tradicionalmente utilizadas na construção da viola-de-cocho.[2]
É óbvio que muitos fatores contribuíram e contribuem para que a luteraria de viola não seja disseminada e praticada com mais amplitude e que, caso não haja um trabalho sério, fundamentado e orientado no sentido de dar continuidade a esta tradição (e até renová-la. Por que não?), a viola-de-cocho, adufe e ganzá, inclusive, se tornarão peças de museu.
Não é menos óbvio que muitos fatores contribuíram e contribuem para a destruição do meio ambiente e que, caso não seja mudado este padrão de consumo e, através de ações diferenciadas e em diversos âmbitos, colocar em discussão questões ambientais de maneira séria, criativa, com a participação da comunidade jovem não apenas como receptora, também como criadora, em breve o meio ambiente, incluindo o ser humano, serão peças de museu.
Questiona-se a falta de interesse pelo jovem em dar continuidade às tradições ou de ter interesse por questões mais sérias. As razões apontadas provêm dos mais diferentes campos e, apesar de não serem excludentes ou mesmo de serem bastante verossímeis, na maior parte das vezes permanecem no campo teórico.
Por quê?
Sabendo que alguns dos traços mais característicos dos jovens são a contestação e a busca de identidade dentro de seu próprio grupo ainda se insiste em métodos ultrapassados, anacrônicos, cuja ineficácia reside justamente em seu conservadorismo, principalmente no que tange ao ensino das artes e dos fazeres que as cercam.
A abordagem tradicionalista dos cursos oferecidos não permite que hipóteses, experimentações, experiências e criação, tão importantes na formação do indivíduo, sejam levadas em consideração, reforçando um viés hierárquico na relação professor-aluno, como se o saber pertencesse ao primeiro, restando ao outro o papel de receptor.
Aplicações criativas e de criação musicais, visão crítica e um olhar que atente para as necessidades e vivências do aluno deveriam ser aspectos importantes em qualquer área de ensino, mas não são práticas corriqueiras, haja vista as limitações impostas pelas metodologias comumente adotadas.
Num universo onde a intercomunicação epistemológica e perceptiva não tem lugar, é muito provável que o indivíduo tenha uma formação incompleta[3], resultando em um ou dois dos personagens de Boécio (século VI), existentes na produção musical apontados por Tomás (2002).
Não é menos certo que a negligência com que se trata das questões ambientais e, no que concerne a este projeto, do lixo, tem resultados nefastos na sociedade não apenas do ponto de vista ecológico, mas social, de saúde, artístico, cultural enfim. Não há dúvida na urgência em discutir este assunto de maneira mais ampla, mais honesta e sempre que possível, fazendo links plausíveis e realizáveis, contextualizadores, atualizadores, rejuvenescedores.
APRESENTAÇÃO
O Projeto de Construção de Instrumentos Musicais tem como público alvo pessoas de ambos os sexos, a partir de 9 anos. O ponto de partida será a criação de situações que gerem problemas e dificuldades que serão superadas em ambiente adequado, de maneira individual e/ou coletiva, onde o professor sirva como referência em termos de mediação, orientação e consulta, haja vista que estaremos construindo conhecimento através da vivência e convivência, de maneira lúdica e criativa como bem salientou Zampronha (2002):
“Indo além da lógica do pensamento rotineiro, dominando procedimentos libertadores e otimizando funções cognitivas e criativas, a vivência musical que se pretende na educação não diz respeito exatamente ao exercício de obras caracterizadamente belas, assinaladamente bem feitas, mas sim a todas as que motivam o indivíduo a romper pensamentos prefixados, movendo-os à projeção de sentimentos, auxiliando-os no desenvolvimento e no equilíbrio de sua vida afetiva, intelectual e social, contribuindo para sua condição de ser pensante” (p.118).

Isto pressupõe interações de ordem afetiva, social, física e cognitiva. Suas implicações no aprendizado e desenvolvimento de acordo com Piaget e Vygotski[4] são de fundamental importância para a qualidade da aprendizagem, ou melhor, para que ela seja efetiva.
De acordo com a teoria de desenvolvimento de Piaget, os indivíduos complexificam suas ações na medida em que avançam em processos de maturação biológica, cognitiva, emocional, afetiva e social em suas experiências cotidianas, em contato com o meio, cuja interação, ao gerar constantes desequilíbrios e reequilíbrios, servirá de esteio para as diferentes etapas, de maneira não linear, mas sucessivamente.
Por outro lado as ações em diversas instâncias desenvolvidas ao redor e com o indivíduo são atualizadas e reconhecidas social e culturalmente quando possuidoras de marcas inteligíveis, ou melhor, ao serem eloqüentes, terem significado.
Isto, a que chamamos vivência, permite aos seres executar determinadas tarefas com maior ou menor precisão e requinte, por exemplo.
Neste sentido a vivência musical trazida por todos os envolvidos é o fator que tornará o fazer mais dinâmico e passível de lograr êxito, pois enfocaremos o aprendizado como vivência e não apenas como transmissão de conceitos. Outrossim, estabeleceremos o ponto de contato com a educação ambiental a partir da matéria-prima cuja transformação mercê da reutilização realizará a vivência.
O estímulo à cognição através do enfrentamento de problemas e conseqüente resolução nos levará a forjar conceitos junto aos alunos, construindo conhecimento em função de questionamentos, proposição de situações ideais e reais haja vista que nossa capacidade para conhecer e aprender resulta da interação de fatores internos (maturação biológica, psíquica, emocional, afetiva) e externos (meio social e físico) em contraste com nossa bagagem sócio-cultural.
Tão importante quanto as etapas de desenvolvimento, ligadas aos fatores citados acima, está a interação com o meio sócio-cultural em toda sua complexa diversidade, conforme Zampronha (2002), e a forma de transmissão e recepção, ou seja, a linguagem.
O indivíduo recebe e desenvolve em seu meio formas de comunicação pertinentes para que possa interagir, relacionar-se com seus pares, fruir, correlacionar situações e objetos no seu conhecimento e reconhecimento do mundo ao redor.
A forma como desenvolveremos os conceitos e as teorizações virão ao encontro das teorias de desenvolvimento no sentido daquilo que o aluno utiliza como linguagem musical e a própria linguagem que utilizaremos em todas as atividades propostas.
O projeto CIM (Construção de Instrumentos Musicais - outra visão do refugo) foi concebido tendo em vista as questões apontadas e será realizado em três etapas distintas, interligadas, independentes, pois podem ser executadas separadamente, mas sempre norteadas, ou melhor, permeadas pela ótica da educação ambiental, por um apelo social, através do fazer artístico de nosso povo e considerando as teorias apontadas.
A primeira etapa consiste na construção de instrumentos musicais de percussão, sopro e cordas utilizando como matéria prima resíduos sólidos inertes: refugos de canos de PVC; garrafas PET de 2 litros; refugos de madeireira e marcenarias; latas e galões de latão; caixotes de frutas; sandálias velhas de borracha; chaves inutilizadas, entre outros materiais que sejam sugeridos pelos alunos.
Este primeiro momento já inclui a segunda etapa que consiste no conhecimento e manuseio das ferramentas utilizadas na marcenaria e luteraria.
A luteraria é usualmente entendida como a arte de construir instrumentos musicais de cordas, porém em nosso projeto será entendida como o ofício de construir quaisquer instrumentos musicais.
Enquanto curso, a arte de construir instrumentos musicais figura como um dos mais envolventes, pois desperta o interesse dos alunos, aguçando sua curiosidade, principalmente porque sua prática se estende para além do espaço da sala de aula ou lugar onde é ministrado.
Nesse sentido é importante ressaltar que o presente projeto não pretende apontar uma solução permanente e milagrosa em relação aos problemas ambientais e educacionais – não é de sua competência -, mas ser um núcleo fomentador e instigador de questões e questionamentos a respeito do destino que damos aos resíduos sólidos inertes (tratados em geral como LIXO). Pretendemos sim, reorientar nosso olhar em pelo menos um aspecto de vital importância para nossa qualidade de vida e permanência neste planeta: a relação que estabelecemos com aquilo que produzimos.
Na etapa final teremos noções básicas de manuseio e execução dos instrumentos construídos utilizando, como fonte de estudos, gêneros nacionais e estrangeiros, como por exemplo: várias vertentes do samba; ijexá; tambor-de-crioula maranhense; maracatu pernambucano; siriri e cururu; baião; xote; reggae; blues; funk entre outros. Muito embora a criação individual e coletiva não sejam aspectos desprezados, pelo contrário cada prática pode e deve ser acompanhada de um momento criador/criativo.

OBJETIVOS GERAIS
· Dar alguma contribuição às discussões sobre educação ambiental
· Fazer uma reflexão junto aos alunos sobre a arte mato-grossense
· Contribuir com o fazer artístico-cultural mato-grossense
· Aguçar a curiosidade dos participantes sobre as possibilidades de reaproveitamento dos resíduos sólidos inertes
· Desenvolver e aprimorar coordenação motora e psicomotricidade dos participantes
· Realizar sensibilização musical

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
· Construir instrumentos musicais de percussão, cordas e sopro.
· Tocar os instrumentos produzidos
· Dominar algumas técnicas de luteraria
· Dominar algumas técnicas de execução dos instrumentos construídos
· Ter contato com alguns gêneros musicais
· Desenvolver sentido tímbrico
AVALIAÇÃO
Compreender as propostas de forma a executar ações pertinentes e refletir sobre as possibilidades materiais em termos funcionais e simbólicos.

BIBLIOGRAFIA

DAVIS, Claudia; OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 1994.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia, saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998.

GRAMANI, José Eduardo. Rítmica. São Paulo: Perspectiva, 1998.

HARNONCOURT, Nikolaus. O discurso dos sons, caminho para uma nova compreensão musical. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1988.

LIMA, Marisa Ramires Rosa de; FIGUEIREDO, Sergio. Exercícios de teoria musical. Uma abordagem prática. São Paulo: Artcromo, 1991.

MED, Bohumil. Teoria da Música. Brasília: Musimed, 1996.

OLIVEIRA PINTO, Tiago de. Som e música: Questões de uma Antropologia Sonora. In: Revista de Antropologia, São Paulo: USP, v.44, nº 1, 2001. pp.221-286.

PAREDES, Eugênia Coelho et al. Psicologia: fundamentos da teoria piagetiana. Cuiabá: UFMT, 1995.

REGO, Teresa Cristina. Vygotski, uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1995.

SATO, Michele (Coord.). Sentidos Pantaneiros: Movimentos do Projeto Mimoso. 1ª ed. Cuiabá: KCM Ed., 2002.

SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. Trad. Marisa Trench Fonterrada. São Paulo: Ed. UNESP, 2001. Título original: The Tuning of the World.

WISNIK, José Miguel. O som e o sentido. Uma outra história das músicas São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

ZAMPRONHA, Maria de Lourdes Sekeff. Da música, seus usos e recursos. São Paulo: Editora UNESP, 2002.


[1] É importante ressaltar que a reciclagem não é, nem de longe, o ponto mais importante da educação ambiental, pois consome energia não renovável, demanda utilização de produtos químicos. A reutilização, apesar de não apresentar resultados significativos, em muitos casos é uma opção melhor do que a reciclagem por não necessitar de muita energia para produção, tampouco demanda por produtos químicos e ainda tem a vantagem de servir como uma ferramenta útil e acessível nas ações de educação ambiental. Enfim, a redução desponta como a ferramenta mais eficiente, pois a mudar os padrões de consumo, utilização de embalagens, entre outros é o que pode realmente desonerar a natureza no início da cadeia produtiva e no destino final dos resíduos sólidos inertes.
[2] Tradicionalmente o sarã-de-leite tem sido utilizado na construção da viola-de-cocho, mas o assoreamento dos rios e a destruição da mata ciliar têm colocado em risco esta espécie forçando os luthiers a buscarem madeiras de porte no interior das matas. Entretanto este procedimento requer um necessário, porém não tão simples trâmite burocrático: autorização do IBAMA.
[3] É consenso entre os educadores que a formação do indivíduo deva prestigiar a maior quantidade de conhecimentos possível, abarcando os diferentes saberes. Vide LDB 9394/96.
[4] Conforme discussões e orientações levadas a cabo em sala de aula pela Professora Ms Daniela Zaneti, no curso de Educação Artística, disciplina de Psicologia da Educação, 2004.